terça-feira, 7 de novembro de 2006

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Acho que sou meio memória curta...
Andei pensando até que ponto o passado, seja ele distante ou recente, faz muita diferença na minha vida. Parece paradoxal a maneira de manifestá-lo em mim. Medos, conflitos e dissabores pesam diferentemente de acordo com cada situação, mas, claro, deixam sua impressão. Felicidade também! O que eu seria hoje sem os momentos eufóricos de sexta a noite, ou sem a doçura de um cafuné de domingo à tarde?
Sim, eu assumo que os fatos ocorridos me moldaram, me transformaram ao longo do tempo. Mais do que isso, porém, ficou aquela coisa que é sentir, sentir algo forte, dispneico, aterrador... E a minha memória, seletiva como só, não sabe me assegurar o que foi melhor ou pior pra mim: as frustrações (eita medo que eu tenho dessa palavra) ou as alegrias (nao me atreveria a dizer satisfações, Satisfação está acima de tudo isso). Às frustrações eu devo a capacidade de superar, quase instantaneamente, sem esquecer, cada um dos momentos em que eu preferiria simplesmente pedir licença e me mandar pra algum lugar bem longe. Elas também criaram um pequeno monstrinho dentro de mim. O danadinho é feito de misantropia e se alimenta de absurdos, meus ou dos outros (e olha que absurdo não falta por aí, o bichinho tá é gordo e forte!). É ele quem sempre tenta me convencer de que algumas pessoas são criaturas dignas de pena, egoístas e até abjetas em seu comportamento mesquinho. Aí eu olho pra cara dele e penso: "Pobrezinho... se ele soubesse que todo mundo é assim às vezes... Inclusive eu, óbvio!". Em certas situações, ele fica sem saber o que fazer. Desconfiado, não sabe ao certo o que é ou não real, e se revolta. Meu monstrinho também se alimenta de desconfiança, sempre em pequenas doses, pois eu costumo confiar bastante em todo mundo. O problema é que até um quantidade pequenininha de desconfiança já causa no pobrezinho uma reação de hipersensibilidade, cuja principal manifestação é a revolta mal orientada e depreciativa. Ah, mas deixa o monstrinho aí... Posso controlá-lo facilmente, às custas de uma pequena vertigem de vez em quando, quando preciso de um esforço um pouquinho maior para mantê-lo nos eixos...
Por falar em controlar, quem sempre me deu trabalho e nunca entrou na linha foi a Lucy! Será que já posso falar dela como alguém no passado? Ora, ela apareceu não faz muito tempo e fez um estrago tão grande na minha sanidade que eu deveria dar graças por ela ter sumido. Mas o fato é que eu sinto saudades daquela maluca! E, sabe, ela não sumiu não... Eu bem sei onde ela está, lá mesmo aonde eu não me atreveria admitir que ainda vou. Mesmo porque nunca mais nos vimos por lá. Disso eu sinto falta, da Lucy, dO Sujeito, e do começo de tudo, quando todos pareciam inofensivos e eu me divertia pensando na não tão simples condição de cada pessoa capacitada a Pensar, Sentir e fazer disso tudo algo mais intenso que automática rotina a que muitos se habituam.
E nesse ponto meu passado dá as caras mais uma vez pra reclamar a responsabilidade por essa minha vontade de ir além. Foi lá na primeira década, em que algumas músicas começaram a me mostrar que ouvir Xuxa não era assim grande coisa e que o Sérgio Malandro era um cara no mínino esquisito, que eu comecei a não me importar com o que era pra mim e o que era de adulto. Claro que eu tive infância, e às vezes penso que ainda estou nela, mas foram os remotos tempos de ouvir Raul e Zé Ramalho com o meu pai, sem ter muita noção do que as letras realmente diziam, que realmente me transformaram no que eu sou hoje.
Se é pra ser passado, que tenha passado há muito tempo. Eu não estou mais com vontade de pensar nisso. Nem no meu passado, nem no dos outros...
Passem as pessoas por mim, me acompanhem ou não! Foi-se o tempo em que eu estava disposta a ser tolerante com a velharia sentimental que me perseguia! Acho que eu mereço um recomeço, e exijo recomeçar direito! Não quero mais saber do que aconteceu com os outros há um dia, uma semana ou um ano! Vamos fazer um trato? Não me conta nada, que eu não te cobro explicação, e a gente fica bem assim. E se você ainda quer se empanturrar de lembranças, não me convida pro banquete, estou quase Satisfeita com o que tenho (mas preste atenção: quase Satisfação é um passo pra frustração, então não se descuide de mim).

Um comentário:

Anônimo disse...

porque auto-análises são sempre bem vindas.

um brinde ao tom de crescimento (este texto foi quase um grito de "AVANTE!") e meio "hakuna matata" que acabei de ler. Eu gosto assim: segura (ainda que haja dúvidas), sã e de vez em quando meio hostil.

PS: não sei se foi isso, mas referir-se ao Sujeito no passado é torná-lo alguém que 'existiu', ao invés de alguém que 'é', como ele.